1) Se o povo não se organiza, alguém vai organizar

Na luta de classes é sempre importante fazer análise de conjuntura, análise estrutural, e conhecer diferentes estratégias e táticas de luta. Mas, para aplicar esse conhecimento, é preciso antes se organizar.

Organização não é um tema que a gente nasce sabendo, como um “instinto”, e um grupo dificilmente será bem estruturado “com o tempo”, de forma espontânea. Poucos coletivos e movimentos formalizam suas regras de deliberação e as mantêm explícitas para todas as participantes. Isso dificulta as tomadas de decisão, o ingresso de novas pessoas e o desenvolvimento de suas práticas sociais. Assim, não adquirem relevância política e não acumulam forças para intervir na realidade.

Quando não nos organizamos, os frutos da nossa luta são cooptados pelos setores da sociedade que estão organizados.

Como já disse a militante feminista Jo Freeman [ref. 1], grupos sem uma estrutura formal podem ser bons para juntar pessoas e promover debates de conscientização. Nada de errado nisso. A informalidade só vira um problema quando o grupo deseja crescer e se fortalecer, quando quer ir além da “conversa” e partir para a prática social.

“Para que todas as pessoas tenham a oportunidade de se envolver num dado grupo e participar de suas atividades, é preciso que a estrutura seja explícita e não implícita. As regras de deliberação devem ser abertas e disponíveis a todas e isso só pode acontecer se forem formalizadas.

Quando uma organização não define uma estrutura formal, a tendência é que ela seja controlada por estruturas informais definidas por um grupo minoritário. Em geral, por um círculo estreito de amizades.

Mesmo quando tem poucas pessoas, um coletivo ou movimento já pode conseguir importantes vitórias. Essas vitórias, sejam elas grandes ou pequenas, podem fazer a organização crescer, mas isso só acontece se a organização tiver as portas abertas para a aproximação e participação de novas pessoas.

E, antes de abrir as portas, é importante arrumar a casa.

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Essa cartilha apresenta, primeiro, um modelo simples de estrutura para organizações populares autônomas. Esse modelo pode e deve ser adaptado de acordo com a realidade e as necessidades de cada grupo. Em seguida, são feitas recomendações sobre como preparar e mediar uma reunião e, no final, alguns caminhos para começar o trabalho.

O povo não é inerte por natureza, mas sim quando lhe faltam referências. Esse material foi produzido para auxiliar os grupos que buscam se estruturar de forma popular e autônoma, sem cair em hierarquias internas nem em relações de dependência com grupos externos. Se servir a essa função, terá cumprido o objetivo.

Quem tiver igual ou melhor pensamento, vai, tira quantas cópias da cartilha quanto achar necessário – e junta a companheirada!

Salve, povo que luta!