5) Por onde começar?

O primeiro passo é levantar ações e atividades, a partir de um grupo de trabalho. Por ser simples, prática e aberta, essa é a forma primordial de um grupo que desenvolve uma prática social, mesmo quando esse grupo ainda não tem uma dinâmica interna própria.

Três ou quatro pessoas são o bastante para começar um trabalho.

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O segundo passo é estruturar a organização.

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Para isso, o grupo deve estabelecer alguns acordos mínimos, expostos em uma Carta de Princípios. Esse documento pode ou não ser público, mas deve ser acessível a todas as pessoas que pretendem entrar na organização, já que é a sua linha de acordos.

Além de definir a “identidade comum”, o nome e a cara da organização, algumas perguntas podem ser debatidas e respondidas no processo de construção da carta:

    1. Como compreendemos o mundo? Como respondemos a ele? Por que nos organizamos? Essas perguntas podem ser respondidas na forma de um texto breve que justifique a prática social da organização.

    2. Quais são os princípios comuns dos quais o grupo não abre mão? Identificar alguns princípios que definem, resumidamente, a prática e o pensamento de todas as pessoas da organização.

Outro processo importante na estruturação é a construção de um documento interno de descrição da estrutura da organização, com o objetivo de explicar e firmar quais são os seus espaços, a função de cada um deles e as suas normas de funcionamento. Algumas perguntas:

Quais são os espaços internos da organização? Qual é a função de cada um desses espaços? Quais são as comissões e qual é a tarefa de cada uma delas? Quais são as normas internas? Como são feitas as reuniões? Como é feita a articulação entre os núcleos?

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Com uma prática social e alguns acordos mínimos, o terceiro passo é expandir a organização e fortalecer a sua prática social a partir do planejamento, desde os seus objetivos mais gerais. Tudo que for desenvolvido nesse sentido também pode ser sistematizado em um documento interno, que norteará a prática da organização até que um novo planejamento seja feito.

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As tarefas internas e a formalização de uma estrutura são importantes para potencializar o trabalho e para fazer uma organização crescer, mas não devem ser prioridade. Quando uma organização se fecha em si mesma, ela se esvazia de sentido, vira um desperdício de tempo. Quando um grupo quer começar a atuar na realidade, sua primeira preocupação deve ser a sua atuação na realidade.

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5.1) Planejamento: dos objetivos às ações

O planejamento é a definição de objetivos, estratégias, táticas e ações. Objetivo é onde queremos chegar. Estratégias são caminhos que podemos percorrer para chegar no objetivo. Táticas são como meios de transporte que podemos usar para percorrer esse caminho.

A definição dos objetivos e das estratégias interessa a toda a organização. Portanto, é feita nos núcleos e na articulação.

Para definir os objetivos, é preciso conhecer e analisar o passado e o presente: necessidades, demandas, obstáculos, os agentes à nossa volta. De acordo com nossos objetivos, podemos pensar estratégias e táticas.

Mas o planejamento nem sempre é um processo linear. Muitas vezes, uma boa ideia de ação aparece no começo da discussão. Ela não deve ser ignorada só porque o assunto “anterior” ainda não foi decidido. O ato de planejar não exige uma ordem temporal “de A para B para C”. Exige, isso sim, uma ordenação lógica, de forma que A, B e C estejam interligadas. É a definição desse todo que vai guiar a organização.

O exemplo abaixo é uma simplificação de um objetivo de um movimento comunitário e de dois possíveis desdobramentos:

Objetivo

Fortalecer e estreitar os laços entre a população do bairro e potencializar sua luta por direitos

Estratégias

Ocupar e dar novo sentido ao espaço público

Adquirir recursos próprios para a mobilização de rua

Táticas

Fazer da praça um espaço de convivência e debate público

Preparar uma bateria de rua para as manifestações

Cada estratégia traz assuntos que são muito específicos para serem discutidos em assembleia, mas muito importantes para serem ignorados. Os GTs são espaços mais apropriados para avançar a prática. No exemplo seguinte, cada ação vai exigir sua própria distribuição de tarefas:

Prazo

GT Praça

GT Bateria

2 semanas

Mutirão de reforma da praça

Conseguir instrumentos

2 meses

Evento cultural ou sarau

Oficinas de percussão

4 meses

Rodas de conversa semanais

Preparar bateria de rua

Algumas perguntas básicas do planejamento:

Objetivos: Qual é o nosso histórico? Qual é a situação atual? Onde queremos chegar? Por que queremos chegar a esse objetivo?

Estratégias: Como podemos alcançar os nossos objetivos? Quais são os nossos potenciais aliados e adversários? (organizações e pessoas)

Táticas: Que tipo de ações e atividades podemos fazer?

Ações: O que faremos? Onde e quando? Quais recursos são necessários? Quem se responsabiliza por cada tarefa / cada recurso?

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Depois da ação, a avaliação das diferentes etapas do planejamento é uma prática importante para o aprendizado mútuo. Pode ser observado: Como foi a ação? O que teve de positivo e de negativo? O objetivo está mais próximo? As táticas e estratégias vão na direção dos nossos objetivos? O que pode ser melhorado?